Menos 28

Sou de Coimbra.

Quando concluí o 9º ano chegou o momento de escolher o curso do ensino secundário e apesar de eu ter boas notas a todas as disciplinas, eu sabia no meu interior que teria de estudar línguas, letras, humanidades - algo desse género. O curso não abriu no meu concelho e resolvi candidatar-me ao colégio. Só existem três em Portugal e fazem parte da ordem dos Jesuítas. O CAIC, em Cernache, é um tema um pouco frágil para quem não conhece. Porquê? Porque nós, coitadinhos, somos os betinhos religiosos que têm missa todas as semana e têm de ir. Porque há mesmo padres que vemos todos os dias. Porque, já se sabe, Deus é um assunto taboo. Até para mim foi, antes de ir para lá.

Estudar no colégio é aprender o que é o respeito. Estudar no colégio é aprender a ver o outro como nós mesmos, é saber viver em sociedade. Quando visitava os meus colegas na minha antiga escola, rapidamente percebia que a pior turma em termos de barulho e comportamento no CAIC, seria a melhor na escola pública. Hoje em dia há valores que precisam de ser incutidos e o colégio faz isso. Viver aqueles três anos foi enfeitar a sala de aula no Natal como se de um palco se tratasse, foi sentir-me uma pessoa válida que tem um lugar no mundo, foi fazer amigos para a vida. E não falo só de pessoas da minha idade. 

Ontem, recebi uma mensagem no Facebook de um antigo professor, com umas imagens de um trabalho que, vejam só, fui eu que fiz no 10º ano. O tempo que passou, aos anos que isto foi, e continua a ser válido. Hoje, através do professor João Xavier (que quem conhece sabe que é uma das pessoas que vale a pena conhecer na vida), Deus lembrou-me que estou no bom caminho. O meu trabalho ficou todos estes anos guardado, como me disse ele "no meu colégio". E o bom do "meu colégio" é que sei que é o "nosso colégio". 

Apesar de já há muito não ser uma pessoa que frequenta a missa aos domingos, eu rezo. Falo muito com Deus, chamem-me louca, mas eu sou assim. Há sempre um momento na nossa vida em que devemos agradecer pelo nosso passado, presente, e partilhar com Deus as nossas ânsias de futuro.

Hoje, agradeço não ter tido possibilidade de concluir os meus estudos na minha antiga escola.

Hoje, agradeço ao colégio.

E a Deus.

(Se a minha avó tivesse Facebook, era a primeira a partilhar este post!)